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Nada é tão poderoso quanto uma palavra quando seu tempo chegou!
Victor Hugo
Foi bom pra vc?
Ah, palavras são poderosas!
Um dia me disseram:
– Palavras? apenas ventos sem sentido, fonemas distraídos que seguem a esmo.- Será? Palavras são poderosas ou não temeriam a imprensa, a voz de comando: atire!
Já ouvi:
– Palavras são bobagens! Delete. Esqueça de mim. – Tão simples um fim! Tão sem reconhecimento. Tão sem história. Deletar um amor de sua vida tem a ver com apagar a palavra grifada, carimbada e bordada na pele.
Afirma Jorge Alberto Salton, que cuidar de alguém é colocá-lo em nossa biografia. É quando nos permitimos ser marcados a fogo! Nunca mais os mesmos.
Estar com a palavra no tempo certo é dar sentido. A palavra sou eu! A palavra é você dentro de mim! As da memória ainda amarelam em minhas gavetas. Coisa de museu. Como guardar SMS, e-mails, textos. Na nuvem? Dependência de tantas coisas, de pagamentos, e ficam na distância. Coisa mais sem graça, sem corpo, sem cheiro, sem formato… Ah, o tempo de matéria afetiva concreta, dos poemas num guardanapo de papel, de bilhetes apaixonados, tempo que se foi?
Restos, palavras têm um tempo, vivem seu tempo. E o nosso? é volátil, curto e pretensioso, facilmente manipulável pelo outro.
O cansaço mental toma conta de muitas pessoas.  O futuro dirá se as  mãos e neurônios serão alterados. Nada mais pertence a mim nem a você. A palavra hoje é de domínio comum, raso. Tudo é meu e tudo é nosso, tudo de ninguém. Sem bordas, sem limites.
Palavra é afirmação de vida ou confirmação da morte e só dependerá do tempo da palavra. Dos templos. De um momento, o da primeira golfada de ar e um segundo para a última. O vir-a-ser expectativas, o devir impossibilidades.
Já a idoneidade, permanente acompanhamento do caráter, é atemporal.
O tempo me sufoca em livros empilhados, onde talvez se encontrem os meus melhores e futuros pensamentos. Todos me aguardando, todos dizendo “coma-me!”, todos convidando “saboreie-me”. Todos aguardando o tempo de chegar! E ele existirá para tantas páginas?
Merecedoras de cuidado, as palavras expressam e dependem de nós. De nosso corpo, do tom da voz, de nossa capacidade de usá-las para acolher ou para afastar.
Palavras, na hora errada, são como garatujas, linhas sem sentido e sem fluidez, são aprendizados ou rompimento; na hora certa, podem resultar em nós, em enlaces.
As palavras, há que serem cuidadas, acalentadas, aquecidas, amadas.
01h29 – 01/09/2012 – Porto Alegre/RS
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MARILICE COSTI

Escritora, palestrante, oficineira. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte para Arteterapeutas, mestre em Arquitetura (UFRGS). Criou e editou a revista O Cuidador.

Prêmio Trajetórias Culturais 2021, finalista Prêmio Brasil Criativo, Prêmio Açorianos 2006 e outro. Tem revistas (40) e livros publicados, entre eles: As palavras e o Cuidado, Arteterapia e Literatura (2018) e A Fábula do Cuidador (2016), os mais recentes.

Presidente da Academia Literária Feminina do RS 2023-2024.

www.marilicecosti.com.br

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Marilice Costi é escritora, poeta, contista. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte, é graduada em Arquitetura e mestre em Arquitetura pela UFRGS. Publicações: livros e artigos. Foi editora da revista O Cuidador.
 
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4 respostas

  1. Quando o silêncio sucumbe as palavras não DITAS.
    Por vezes sentimos a falta da nossa presença aonde não cabemos mais, porém nos permitimos expressar a ausência das palavras revestidas de muros silenciosos.
    Excelente texto, Marilice!

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