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pandemia covid-19 - 500 mil mortos no BRASIL
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Recém li no Facebook: “Sou uma péssima mãe, nem desfraldar a minha filha eu consigo. Sou um fracasso”. Seguidamente, mães de pessoas com deficiências afirmam isso.
Por que essas mães se sentem tão culpadas pelas dificuldades de seus filhos?
Isso vem de longe.

Um pouco de História! (1)

Na Idade Média até após a Queda da Bastilha, o funcionamento das mães e das amas-de-leite, os asilos de crianças e o seu abandono foi estudado. A classe pequeno burguesa francesa ascendeu e passou a ter recursos para contratar babás (quem cuidava dos filhos eram os pobres!). Como as esposas-mães não queriam ficar feias, nem serem preteridas por outra, se importavam com convenções sociais da corte não tinha disposição para cuidar. Sua dependência do marido era total e sua sobrevivência era mais importante que a dos filhos.
Com a emancipação das mulheres, as operárias passaram a contratar amas também, mas após a jornada de trabalho, buscavam seus filhos. As amas, para ganhar um pouco mais, repassavam seus próprios bebês para outra ama ou pouco os alimentavam. Não havia culpa com a morte das crianças.
Como a proporção de crianças que morriam devido aos maus cuidados era grande e muitas, quando voltavam às suas famílias anos depois, estavam com lesões e defeitos importantes.

O Estado passou a se preocupar com a falta de homens por causa da economia, das guerras e das questões sociais. Então, as crianças passaram a ter valor mercantil e a serem consideradas riqueza econômica do país pelo governo. A Igreja passou a culpabilizar as mães pelo pecado do abandono. Essa culpa foi ampliada por Voltaire, Rousseau e outros.

Mas quem acerta o tempo todo? A culpa e a responsabilidade
De lá para cá, o sentimento de responsabilidade passou a andar junto com o sentimento da culpa, a obrigação de acertar sempre.
Mesmo se dedicando, as mães sentem-se culpadas e sofrem muito com isso. A culpa ficou impregnada na cultura, no inconsciente coletivo facilmente acionado por elas. Se são mães de crianças com deficiências, as dificuldades são maiores e o sentimento de incapacidade é ampliado.
Basta uma mulher passar por debaixo de uma árvore cheia de culpas penduradas para arrancar mais uma para si. São folclores que mostram o nosso funcionamento.

Cuide-se! 
O meu ponto de vista é que não temos essa culpa. “Tu és responsável por seu filho” é diferente de ser “culpada”. A responsabilidade nos faz lutar, a culpa nos adoece e de que adianta?
Há profissionais que acionam nossa culpa e nós a aceitamos. Como eles dizem autoridade e nós “apenas mães”, vestimos a culpa sem questionarmos e nos sentimos incapazes.

Nos encontros familiares é muito comum alguém tecer observações desse tipo.
Não aceitem, não acionem um sentimento de culpa. Fiquem tranquilas, você quis fazer o seu melhor!

Sobre o desfralde
Eu diria a essa mãe preocupada com o desfralde de sua criança, que relaxe, que se mostre apoiadora do processo da criança, que acredite nela e a estimule. Amanhã será outro dia! Passe confiança.
Prefira retirar as fraldas no verão durante o dia. Inicialmente, a criança vai fazer xixi no chão. Mostre surpresa com bom humor. Aos poucos, sua criança perceberá como é bom estar livre – sem fraldas – e sequinha!
À noite, recoloque as fraldas para garantir o sono e sua própria tranquilidade.

Tente. Tente várias vezes. Tente muitas vezes. Não desista, nem desanime. Quando ela acordar sequinha, faça festa, pegue-a no colo e corra para o banheiro ou tenha um penico próximo para ela usar logo. Ajude-a.

Minha experiência
Meu filho autista, hoje adulto, seguidamente fazia xixi na cama, já não usava fraldas. Mesmo previamente forrado de plástico, o líquido passava. Ele virava o colchão para esconder de mim. Claro que eu percebia, mas fazia de conta que não notava. Lavava com água e vinagre para remover ao máximo o odor de urina e seguia o dia. Eu acreditava que se ele escondia, de alguma forma se envergonhava. Eu dizia para mim mesma: daqui uns dias vai conseguir! Mas demorou.

Outras vezes, eu acordava meu filho um pouquinho antes do seu horário e corria ao banheiro com ele ao colo. Esperava que fizesse xixi e depois ele podia dormir mais um pouco. Mas geralmente queria mamadeira e ir brincar.
Ele somente controlou a enurese aos 10 anos. Era década de 80, século XX. Contei sua dificuldade ao neuropsiquiatra infantil e ele o medicou. Esperamos alguns dias. Quando o medicamento fez efeito, passou a acordar com a fralda seca… e nunca mais! Tempos depois, o medicamento foi suspenso.

Minhas Dicas

Pegue o desconforto dele e a sua culpa, amarre-os bem e ponha tudo no lixo. A energia que gastamos com culpas nos auxilia se a usarmos para seguir com fé, enquanto buscamos por soluções.

Cada filho é único, tem sua própria singularidade.
Cada um aprende conforme a maturidade de seus órgãos.
Dê tempo ao tempo, evite comparações com outras crianças.
Líquido demasiado à noite não auxilia.
Festeje a cada avanço e conte ao pai para que ele também participe e valorize o desenvolvimento de seu filho.
Não admita que a culpem. Faça o seu melhor e durma em paz!

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corações

 

Informe suas dificuldades para que possa auxiliá-la.  Continuarei trazendo minha experiência neste blog.  Vai meu abraço carinhoso e conte comigo! 

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Marilice Costi é mãe e avó, escritora e poeta, docente de Pós-graduação. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte. Graduada em Arquitetura e Urbanismo, e Mestre em Arquitetura pela UFRGS. Atende on-line e em atelier. Seus livros estão na Loja Virtual e são muitos os artigos publicados em diversos sites.

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Marilice Costi é escritora, poeta, contista. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte, é graduada em Arquitetura e mestre em Arquitetura pela UFRGS. Publicações: livros e artigos. Foi editora da revista O Cuidador.
 
Nos COMENTÁRIOS abaixo, deixe sua opinião. Lembre-se de enviar a outros pais, professores e outros cuidadores. Agradeço.

8 respostas

  1. Muito bom!!!
    A reflexão importante é que, secularmente, mulheres aprenderam a se sentir culpadas…
    Se o casamento fracassa, se os filhos não se enquandram na “caixinha”, se o estupro acontece, se não querem casar, ou não querem ser mães. E nós aceitamos e acreditamos nisso.
    A mudança só acontecerá quando nós mudarmos…quando não mais aceitarmos o que não é nosso e nos posicionarmos com firmeza, conscientes da nossa realidade, de quem somos, libertas de preconceitos e crenças cômodas para um mundo que ainda pensa como a dois mil anos atrás.
    Afinal…até quando…?

    1. Simone de Beauvoir afirma que as mulheres têm seus direitos violados com muita frequência e precisam estar permanentemente alertas e lutando por eles.
      “Não solte a minha mão!” – nosso caminho.
      Obrigada por comentar. Bj

  2. Nada como ouvir e aprender com quem ja caminhou essa estrada.
    Sabemos que cada um é um, mas as dicas e troca de experiências são valiosas.
    Gratidão por tao belo e esclarecedor texto!

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