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colagem e lápis preto

Quando eu fazia o mestrado, cursei uma disciplina cuja teoria, formas e composições eram conteúdo para compreender o momento histórico das Artes sua relação com a Arquitetura, e estimular novos processos criativos. Havia um novo olhar contrapondo o cientificismo moderno do final do século XX, assim como ao positivismo.

Tudo passaria a ser mais complexo. Não haveria mais causa simples para os fatos. Nossas conclusões em nossas experiências e o nosso conhecimento tornar-se-iam incompletas. A quantidade de informações desconhecidas tornar-se-ia tão imensa, que nos sentiríamos (e a sensação permanece) à distância a observar um novo mundo. Não conseguíamos mais abraçar o todo. Perderíamos as certezas recebidas nas escolas. Não teríamos mais o controle de nossa vida.
Se desconsiderássemos a questão temporal, os fatos estariam ocorrendo na velocidade da luz, com a mesma força e impacto das descobertas marítimas na Idade Média. Uma revolução rumo ao desconhecido.
A informática, novas formas de comunicação, e a globalização passariam a conectar o mundo, abrindo caminhos novos, e com tal extensão, que seriam assustadores.
Tive então uma certeza: jamais teria domínio do conhecimento de minhas disciplinas para ensinar aos alunos.
Então, decidi que o meu melhor seria dar tudo de mim para estimulá-los à pesquisa, a buscar informações para uso responsável da tecnologia, para o comportamento ético, o conhecimento dos seres humanos, suas percepções e deficiências, e o autoconhecimento.

Na aula, após um exercício de processo criativo de Collage, minha poesia brotou em mim – era final do século XX.
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Mimese 1 (1997)

isto parece ser, mas não é
internet/net/perneta inter-nós

a foto é um engano
as rugas desaparecem
e isto a faz menos infeliz

o olhar é que emana
sendo olhares, verdadeira

a imagem é farsa
olhar através dela
tira os panos

a net mete falso
a perspectiva não é um abraço
a internet é o regaço
do só
e a imagem é a mó do espaço
industrial
inter-ciberial
de pontos de vista infinitos
onde somos apenas uma molécula a mais
na Quarta-Feira de Cinzas
e a distância entre células é o suficiente
para o vírus

entre o path e o teu config
onde perdeste o id?

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A informática iniciava e empurraria o mundo. Nunca mais caravelas rasgariam caminhos desconhecidos.
Teríamos que desenvolver soluções analisando muitas variáveis a mais do que imaginássemos em quaisquer problemas coletivos ou individuais, alimentando-nos de uma parafernália de dados em uma sociedade líquida, impermanente, flexível, sem paradeiro.

Todos seguiríamos eternos aprendizes.

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MÍMESE 2 (1998)

espelho invertido do que fui

sou collage

de orvalho, silicone e fuligem

no ar opaco

do pôr-do-sol

meu sonho é pesadelo

e meu sono é voo

do trabalho do dia

transpiro química

atrás da molécula amorosa

da erupção da ciência

e do rompimento da cápsula

sou estruturada

num pedaço de gente fragmentada

Copywrith@MariliceCosti_1997

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corações
Marilice Costi é escritora, poeta, contista. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte, é graduada em Arquitetura e mestre em Arquitetura pela UFRGS. Publicações: livros e artigos. Foi editora da revista O Cuidador.
 
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